PARADIGMA DAHLEM: UM PROJETO DE SABER, LAZER, PRAZER E AR LIVRE NA CIDADE 

Para evitar a impermeabilização e destruição de um dos últimos solos agricultáveis no Porto, propomos a constituição de um centro de produção e de lazer à imagem do Domínio Dahlem, em Berlim, com as necessárias adaptações decorrentes das diferenças entre as duas cidades e culturas.

A nossa proposta de salvaguardar terrenos livres de urbanização para cultivo de alimentos, bosques urbanos ou quintas experimentais e pedagógicas tem ilustres precedentes

Um deles, em especial, pode constituir mesmo um paradigma a seguir pelo menos na sua intenção ou «alma».

Inspiramo-nos para isso no Domínio Dahlem, uma zona de Berlim (Alemanha) dotada de uma antiga história agrícola e que é hoje um património de grande valor numa das maiores e mais importantes cidades da Europa. É um lugar que proporciona aos seus habitantes e aos que o visitam oportunidades de aprendizagem, entretenimento, repouso, diversão e múltiplas atividades ao ar livre.

É claro que o Porto apenas se poderia inspirar deste modelo, não reproduzi-lo, já que, mesmo sendo a nossa proposta relativa a uma das raras e maiores áreas ainda livres na cidade, o espaço em causa não tem provavelmente dimensão suficiente para alcançar a dimensão de Dahlem. Mas tem o necessário para uma variante coerente, embora talvez de menor amplitude.

Um domínio agrícola numa grande capital europeia

«As cidades deviam ser construídas no campo», brincava, no seu costumeiro humor paradoxal, o escritor francês Alphonse Allais. Isso numa época em que o campo, por quase toda a parte, era ainda um lugar de beleza e repouso. O domínio agrícola de Dahlem, em plena civilização tumultuosa do século XXI, permite mesmo ainda hoje compreender como seriam diferentes e mais acolhedoras as cidades se fossem concebidas como uma síntese equilibrada de cidade, jardim, horta, campos e bosques. Era precisamente esse o programa do movimento das cidades-jardins, criado na segunda metade do século XIX por um dos mais eminentes pioneiros do planeamento urbano, o londrino Ebenezer Howard. Ele representa uma outra tradição de pensar a cidade, que a vê, não como um corte abrupto com a natureza, mas como uma criação nela situada e em interação e harmonia com ela. Porque não haveria pois o Porto de ter o seu Dahlem?

O bairro Dahlem

O domínio (diríamos a quinta) de Dahlem oferece, em plena zona urbana, a possibilidade de nos sentirmos como se estivéssemos num pequeno (não tão pequeno, na verdade) espaço de vida camponesa, já favorecido pelo enquadramento do bairro do mesmo nome, bairro residencial na verdadeira aceção da palavra, rodeado de lagos e florestas. Entre as suas numerosas mansões, contam-se diversos museus, incluindo de etnografia, uma universidade, um jardim botânico. Tranquilidade e presença de árvores e vegetação proporcionam ao bairro, situado no sudoeste de Berlim, um encanto especial, animado embora pelo colorido de uma população jovem e estudantil que ali frequenta a Universidade Livre de Berlim (Freie Universität Berlin).

Visitar Dahlem

O domínio Dahlem destaca-se no bairro como um dos seus principais atrativos. Antigo domínio senhorial, com 8,39 Km2, nele sobressaem as imponentes edificações de antiga mansão, cujas origens remontam aos séculos XVI e XVII, uma das mais antigas construções de Berlim, erguida em estilo barroco e hoje integrada no museu estatal de Berlim (Stadtmuseum Berlin). No pátio de entrada existe um grande e profundo poço. As edificações agrícolas de apoio datam do século XIX. Existe aqui também um ecomuseu que guarda a memória de uma velha civilização camponesa ainda presente naquela que é hoje uma das mais influentes capitais do mundo. O domínio alberga uma coleção de utensílios completada por uma rica exposição de colmeias. Horta e jardim, oficinas e estábulos para animais são palco de uma intensa produção agrícola e artesanal baseada em princípios ecológicos, com destaque para a agricultura biológica. Os produtos alimentares e artesanais são adquiridos por numerosíssimos e constantes visitantes, sendo assim gerado um rendimento que ajuda a viabilizar aquele espaço, completado ainda por oficinas, cursos e outras atividades educativas que concorrem para o mesmo fim.

Visitar o domínio Dahlem constitui um atraente e multifacetado programa, quer para os habitantes da região, quer para visitantes de todo o país, da Europa e do Mundo. Aí se organizam grandes festas e feiras campestres, passeios de carruagem e caleche e outras atividades, hípicas ou não, muito apreciadas dos visitantes e de grande êxito junto das crianças. Há demonstrações de técnicas tradicionais, oficinas de marcenaria, olaria e tecelagem. Nesta última é possível ver duas mulheres a estampar tecidos como se fazia há 300 anos. Além disso, pode-se assistir ao ferrar de um cavalo, aprender a mungir uma vaca ou descansar diante de um copo de cerveja. Em Dahlem pode-se fruir com todos os sentidos o percurso dos nossos alimentos, desde o campo até aos sacos de compras. Ao longo de todo o ano podem visitar-se exposições, mercearias históricas, campos cultivados e animais, sendo ainda possível encomendar um programa para o aniversário de uma criança.

Trabalhar em Dahlem

Esta é provavelmente a única quinta cultivada aonde se pode ir de metro (estação Dahlem-Dorf). Graças a ela é possível ver galinhas, vacas e cavalos na cidade, um privilégio que nem toda a gente tem habitualmente. Uma jovem que guia os póneis para as crianças, e que é também responsável por um cavalo (há seis ao todo), explica que só os tratadores podem montar os cavalos, os quais dispõem de um grande estábulo. Há também um porco, cabritos, carneiros, patos.

Celebra-se aqui, em outubro, a festa das colheitas. O visitante pode ir colher batatas, por exemplo, e paga depois o que colheu. Os tratores remexem a terra, os adultos procuram as batatas e as crianças apanham-nas. Todos os produtos cultivados são biológicos (sem pesticidas e sem adubos de síntese). Há uma loja que vende ali mesmo uma parte dos produtos da quinta, como fruta e legumes, ervas aromáticas, carne, ovos, flores. Pode mesmo comprar-se o mel feito por um apicultor no domínio. Uma vendedora da loja, entusiasmada, confia: «É o mais belo lugar para trabalhar, aqui em Berlim.» Há em média 150 clientes por dia nesta loja, mas nos dias de festa o domínio está cheio, e a loja pode chegar a ter 800 clientes.

Um dos guias confidencia: «Este é um lugar muito agradável. As crianças aqui podem andar de bicicleta sem medo de serem atiradas ao chão. Podem fazer-se piqueniques, há pessoas que passam aqui a tarde toda. Há as que vêm festejar um aniversário, ou lançar papagaios. No inverno está tudo coberto de neve, é lindo. Foi aqui que ensinei aos meus filhos o que são na verdade os legumes, porque me dei conta que não faziam ideia do aspeto que eles têm quando estão a começar a rebentar.»

É frequente no domínio a presença de estudantes em estágios relacionados com os seus estudos ou que vêm ocupar-se dos campos por algum tempo. A quinta mantém-se em atividade graças aos cuidados da Bioland, associação alemã de agricultura biológica.

Mais informações (em alemão) e muitas imagens: https://www.domaene-dahlem.de


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